"Cascais foi «oásis artificial» do Jazz"
A agência noticiosa LUSA fez hoje eco das declarações prestadas por João Moreira dos Santos (autor de JNPDI) a propósito do seu mais recente livro: Jazz em Cascais: Uma História de 80 Anos.
Lisboa, 08 Ago (Lusa) - O concelho de Cascais foi um oásis [do Jazz] relativamente ao resto país" onde a resistência das elites culturais não diferiu do resto da Europa, defendeu, em declarações à Lusa, o investigador João Moreira dos Santos.
Autor de "Jazz em Cascais. Uma história de 80 anos", Moreira dos Santos disse que "o Jazz beneficiava em Cascais de um oásis artificial. O país não transpirava Jazz, tinha alguns paraísos como Cascais, alguns clubes de Lisboa e Porto ou os casinos de Espinho e da Figueira da Foz".
"O Jazz não respirava cá para fora e era exactamente por causa disso que o regime [ditatorial] o tolerava, tanto mais que era ouvido por elites que estavam a favor da situação e a música dificilmente se assumia como acto subversivo", argumentou.
Todavia, ressalvou o autor, "o Jazz é o símbolo da afirmação de um povo, de igualdade, de liberdade, de tolerância, de diálogo, e não se pode desenquadrar do contexto socio-político em que surgiu. O Jazz foi o grito de revolta de um povo oprimido".
Em Portugal onde começa a surgir na década de 1920, apesar de tolerado politicamente, "o Jazz não era muito visível. A Emissora Nacional de António Ferro, um homem que até apreciava Jazz, pugnava pelo que era português".
"A parte social, política e cultural em Portugal foi muito parecida com o que se passava na Europa, mas inferior em termos de quantidade e qualidade, designadamente Londres e Paris, os principais centros difusores", afirmou Moreira dos Santos, segundo o qual "os grandes nomes do Jazz só começaram a actuar em Portugal na década de 1950".
As elites culturais portuguesas criticavam o jazz, tendo Moreira dos Santos citado os casos do escritor Ferreira de Castro e do jornalista Artur Portela (pai).
"O Jazz era visto como uma música infernal, que ia desmoronar as fronteiras entre as raças branca e negra, que era a carta de alforria da raça negra, que as elites culturais europeias, incluindo as portuguesas, consideraram bárbara, incivilizada e que iria destronar a civilização branca", sustentou.
Artur Portela - disse o investigador - "escreveu que a partir do momento em que os negros faziam cultura estavam enterradas as fronteiras que dividiam incivilizados de civilizados".
Aconteceram porém "fenómenos estranhos como o convite da Presidência da República para a Orquestra de Jazz brasileira de Romeu Silva tocar nos jardins do Palácio de Belém, corria o ano de 1926", depois de ter actuado no Teatro da Trindade por iniciativa de Erico Braga.
O livro sintetiza 80 anos de história do Jazz no concelho de Cascais em que o autor procurou "ser o mais exaustivo quanto possível, tentando não deixar esquecer nem perder nada".
"Não se pode, nem se deve desperdiçar nenhuma fonte. Se não o fizer, acho que é uma parte da história que se perde e por isso eu vou à procura nem que seja na Conxichina", disse o autor.
Para Moreira dos Santos, "a música é feita por pessoas, é a história de uma técnica e do género, mas é sobretudo a história de pessoas que a fizeram e estando vivas têm de ser ouvidas,(...) porque a música que fizeram é o resultado das suas experiências e vivências".
O investigador considera "fundamental" esta "dimensão humana e de experiência de vida que é, ao mesmo tempo, uma homenagem a essas pessoas que tanto se dediacarm a uma causa que é o Jazz".
O "cruzamento de fontes" foi também salientado pelo autor, que utilizou fontes documentais, iconográficas e testemunhos orais.
Outra preocupação do ensaísta que folheou "mais de 100.000 páginas de jornais" e dedicou dois anos a esta investigação foi "a objectividade".
"Tive sempre a preocupação de ser objectivo, daí não falar muito sobre esta (última) década, quando fiz muita coisa, para não ser juiz em causa própria", sublinhou.
"Jazz em Cascais", editado pela casa Sassetti, tem prefácio de Charles Lloyd e um posfácio de Jorge Costa Pinto, totalizando 175 páginas.
NL.
Lusa/Fim
A agência noticiosa LUSA fez hoje eco das declarações prestadas por João Moreira dos Santos (autor de JNPDI) a propósito do seu mais recente livro: Jazz em Cascais: Uma História de 80 Anos.
Lisboa, 08 Ago (Lusa) - O concelho de Cascais foi um oásis [do Jazz] relativamente ao resto país" onde a resistência das elites culturais não diferiu do resto da Europa, defendeu, em declarações à Lusa, o investigador João Moreira dos Santos.
Autor de "Jazz em Cascais. Uma história de 80 anos", Moreira dos Santos disse que "o Jazz beneficiava em Cascais de um oásis artificial. O país não transpirava Jazz, tinha alguns paraísos como Cascais, alguns clubes de Lisboa e Porto ou os casinos de Espinho e da Figueira da Foz".
"O Jazz não respirava cá para fora e era exactamente por causa disso que o regime [ditatorial] o tolerava, tanto mais que era ouvido por elites que estavam a favor da situação e a música dificilmente se assumia como acto subversivo", argumentou.
Todavia, ressalvou o autor, "o Jazz é o símbolo da afirmação de um povo, de igualdade, de liberdade, de tolerância, de diálogo, e não se pode desenquadrar do contexto socio-político em que surgiu. O Jazz foi o grito de revolta de um povo oprimido".
Em Portugal onde começa a surgir na década de 1920, apesar de tolerado politicamente, "o Jazz não era muito visível. A Emissora Nacional de António Ferro, um homem que até apreciava Jazz, pugnava pelo que era português".
"A parte social, política e cultural em Portugal foi muito parecida com o que se passava na Europa, mas inferior em termos de quantidade e qualidade, designadamente Londres e Paris, os principais centros difusores", afirmou Moreira dos Santos, segundo o qual "os grandes nomes do Jazz só começaram a actuar em Portugal na década de 1950".
As elites culturais portuguesas criticavam o jazz, tendo Moreira dos Santos citado os casos do escritor Ferreira de Castro e do jornalista Artur Portela (pai).
"O Jazz era visto como uma música infernal, que ia desmoronar as fronteiras entre as raças branca e negra, que era a carta de alforria da raça negra, que as elites culturais europeias, incluindo as portuguesas, consideraram bárbara, incivilizada e que iria destronar a civilização branca", sustentou.
Artur Portela - disse o investigador - "escreveu que a partir do momento em que os negros faziam cultura estavam enterradas as fronteiras que dividiam incivilizados de civilizados".
Aconteceram porém "fenómenos estranhos como o convite da Presidência da República para a Orquestra de Jazz brasileira de Romeu Silva tocar nos jardins do Palácio de Belém, corria o ano de 1926", depois de ter actuado no Teatro da Trindade por iniciativa de Erico Braga.
O livro sintetiza 80 anos de história do Jazz no concelho de Cascais em que o autor procurou "ser o mais exaustivo quanto possível, tentando não deixar esquecer nem perder nada".
"Não se pode, nem se deve desperdiçar nenhuma fonte. Se não o fizer, acho que é uma parte da história que se perde e por isso eu vou à procura nem que seja na Conxichina", disse o autor.
Para Moreira dos Santos, "a música é feita por pessoas, é a história de uma técnica e do género, mas é sobretudo a história de pessoas que a fizeram e estando vivas têm de ser ouvidas,(...) porque a música que fizeram é o resultado das suas experiências e vivências".
O investigador considera "fundamental" esta "dimensão humana e de experiência de vida que é, ao mesmo tempo, uma homenagem a essas pessoas que tanto se dediacarm a uma causa que é o Jazz".
O "cruzamento de fontes" foi também salientado pelo autor, que utilizou fontes documentais, iconográficas e testemunhos orais.
Outra preocupação do ensaísta que folheou "mais de 100.000 páginas de jornais" e dedicou dois anos a esta investigação foi "a objectividade".
"Tive sempre a preocupação de ser objectivo, daí não falar muito sobre esta (última) década, quando fiz muita coisa, para não ser juiz em causa própria", sublinhou.
"Jazz em Cascais", editado pela casa Sassetti, tem prefácio de Charles Lloyd e um posfácio de Jorge Costa Pinto, totalizando 175 páginas.
NL.
Lusa/Fim
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home