Luís Villas-Boas: O "pai" do Jazz em Portugal
Foto: Diário de Lisboa. D.R.
No ano em que se assinalam 10 anos da partida de Villas-Boas, redigimos e colocamos on-line uma biografia resumida daquele que foi o "pai" do jazz em Portugal. Pretendemos com este gesto contribuir para que a sua memória prevaleça nas novas gerações de músicos e amadores de jazz.
A actividade de Luís Villas-Boas em prol do jazz estendeu-se por cinco décadas (1940/1980) e foi pioneira e extraordinariamente abrangente e diversificada, facto que lhe valeu o cognome de “pai” do jazz em Portugal. Entre as suas múltiplas facetas contam-se principalmente as de comunicador e divulgador na imprensa rádio e televisão, organizador de jam-sessions (juntando músicos portugueses e estrangeiros), fundador das primeiras instituições do jazz no País (Hot Clube de Portugal, Discostudio e Luisiana), produtor e promotor de concertos e festivais, pedagogo e produtor discográfico.
Natural de Lisboa, cidade onde nasceu a 26 de Março de 1924, a estreita ligação dos seus pais com a música levou-o a ingressar aos seis anos na Academia dos Amadores de Música e, posteriormente, no Conservatório Nacional.
O contacto com o jazz ocorreu na adolescência por ocasião da mudança temporária da família para a ilha da Madeira e a consequente exposição aos músicos ingleses que ali se encontravam e, também, à música das The Andrews Sisters, a qual lhe chegou através de um disco que a sua mãe adquirira a um marinheiro de um dos vários barcos que escalavam o Funchal. Foi, porém, no regresso a Lisboa que se acendeu realmente a paixão ao ouvir a bordo de um navio inglês um disco com o famoso tema “Saint Louis Blues” e, sobretudo, através da um livro – mais uma vez oferecido pela sua mãe – intitulado Histoire Générale du Jazz. Strette, Hot, Swing.
Em 1941, assistiu ao seu primeiro concerto de jazz ao vivo através de um dos muitos espectáculos da Willie Lewis Orchestra no Casino Estoril, e três anos depois, em plena II Guerra Mundial, empregou-se como Fiscal Auxiliar de Rádio nos CTT, tendo como missão traduzir os noticiários das estações radiofónicas estrangeiras, o que lhe assegurou igualmente a oportunidade de contactar com as grandes orquestras de swing da época.
Foto: Reitoria da Universidade de Lisboa
Foto: Diário de Lisboa. D.R.
No ano em que se assinalam 10 anos da partida de Villas-Boas, redigimos e colocamos on-line uma biografia resumida daquele que foi o "pai" do jazz em Portugal. Pretendemos com este gesto contribuir para que a sua memória prevaleça nas novas gerações de músicos e amadores de jazz.
A actividade de Luís Villas-Boas em prol do jazz estendeu-se por cinco décadas (1940/1980) e foi pioneira e extraordinariamente abrangente e diversificada, facto que lhe valeu o cognome de “pai” do jazz em Portugal. Entre as suas múltiplas facetas contam-se principalmente as de comunicador e divulgador na imprensa rádio e televisão, organizador de jam-sessions (juntando músicos portugueses e estrangeiros), fundador das primeiras instituições do jazz no País (Hot Clube de Portugal, Discostudio e Luisiana), produtor e promotor de concertos e festivais, pedagogo e produtor discográfico.
Natural de Lisboa, cidade onde nasceu a 26 de Março de 1924, a estreita ligação dos seus pais com a música levou-o a ingressar aos seis anos na Academia dos Amadores de Música e, posteriormente, no Conservatório Nacional.
O contacto com o jazz ocorreu na adolescência por ocasião da mudança temporária da família para a ilha da Madeira e a consequente exposição aos músicos ingleses que ali se encontravam e, também, à música das The Andrews Sisters, a qual lhe chegou através de um disco que a sua mãe adquirira a um marinheiro de um dos vários barcos que escalavam o Funchal. Foi, porém, no regresso a Lisboa que se acendeu realmente a paixão ao ouvir a bordo de um navio inglês um disco com o famoso tema “Saint Louis Blues” e, sobretudo, através da um livro – mais uma vez oferecido pela sua mãe – intitulado Histoire Générale du Jazz. Strette, Hot, Swing.
Em 1941, assistiu ao seu primeiro concerto de jazz ao vivo através de um dos muitos espectáculos da Willie Lewis Orchestra no Casino Estoril, e três anos depois, em plena II Guerra Mundial, empregou-se como Fiscal Auxiliar de Rádio nos CTT, tendo como missão traduzir os noticiários das estações radiofónicas estrangeiras, o que lhe assegurou igualmente a oportunidade de contactar com as grandes orquestras de swing da época.
Foto: Reitoria da Universidade de Lisboa
O início da sua verdadeira cruzada pela implantação e legitimação do jazz em Portugal teve início no Verão de 1945 quando durante o cumprimento do serviço militar conheceu Eduardo Botton, um emigrante filho de portugueses que o motivou a fundar o programa radiofónico Hot Club, que se tornou realidade em Novembro deste ano.
Nesta mesma década, Villas-Boas assinou igualmente vários artigos de opinião para a imprensa, nomeadamente uma primeira história do jazz, e responsabilizou-se pela importação de discos para a loja Custódio Cardoso Pereira. Com os lucros deste empreendimento, em 1947 realizou a sua primeira viagem exclusivamente com o propósito de ouvir jazz, tendo-se deslocado a Barcelona, cidade onde criou laços de amizade com o saxofonista Don Byas.
Foto: Augusto Mayer
A sua obra mais visível e duradoura foi o Hot Clube de Portugal, instituição que logrou fundar em Março de 1950 depois de um demorado e difícil processo iniciado em 1946. Através desta verdadeira “casa do jazz” em Portugal, organizou os primeiros festivais de jazz em Lisboa com músicos portugueses e estrangeiros de passagem pela cidade, promoveu incontáveis jam-sessions (muitas delas alimentadas por marinheiros norte-americanos e ingleses que contactava no Porto de Lisboa), incentivou e dirigiu mostras de cinema e de audição de discos e fundou, já nos anos 70, com o contrabaixista Zé Eduardo, uma escola de jazz.
Foto: Augusto Mayer
A vertente de produtor de concertos despontou nos anos 50 quando apoiou o empresário de teatro Vasco Morgado na contratação de Sidney Bechet (1955) e participou directamente na produção de espectáculos de Dizzy Reece (1956), orquestra de Count Basie (1956) e Bill Coleman (1959).
Nesta mesma década, conheceu George Wein (produtor do Festival de Jazz de Newport), começando a sonhar com a realização de um grande festival internacional em Portugal, fundou a primeira discoteca do País especializada em jazz, a Discostudio, e interveio pela primeira vez num programa de televisão (1958), consolidando a sua crescente autoridade neste género musical.
Também significativa foi a sua contratação para a KLM, como oficial de operações de voo, o que lhe permitiu ao longo dos anos assistir periodicamente aos melhores festivais de jazz realizados na Europa e nos EUA.
Foto: Augusto Mayer
Foto: Augusto Mayer
Os anos 60 trouxeram o início da ligação ao sindicalismo, outra das suas paixões, a colaboração no Festival de Jazz de Comblain-La-Tour (Bélgica), a fundação do Luisiana Jazz Club, em Cascais, a primeira tentativa de organizar um festival internacional na Costa do Sol e a junção pioneira do fado com o jazz, através do encontro em estúdio entre Amália Rodrigues e Don Byas.
Nesta mesma década, Villas-Boas assinou igualmente vários artigos de opinião para a imprensa, nomeadamente uma primeira história do jazz, e responsabilizou-se pela importação de discos para a loja Custódio Cardoso Pereira. Com os lucros deste empreendimento, em 1947 realizou a sua primeira viagem exclusivamente com o propósito de ouvir jazz, tendo-se deslocado a Barcelona, cidade onde criou laços de amizade com o saxofonista Don Byas.
Foto: Augusto Mayer
A sua obra mais visível e duradoura foi o Hot Clube de Portugal, instituição que logrou fundar em Março de 1950 depois de um demorado e difícil processo iniciado em 1946. Através desta verdadeira “casa do jazz” em Portugal, organizou os primeiros festivais de jazz em Lisboa com músicos portugueses e estrangeiros de passagem pela cidade, promoveu incontáveis jam-sessions (muitas delas alimentadas por marinheiros norte-americanos e ingleses que contactava no Porto de Lisboa), incentivou e dirigiu mostras de cinema e de audição de discos e fundou, já nos anos 70, com o contrabaixista Zé Eduardo, uma escola de jazz.
Foto: Augusto Mayer
A vertente de produtor de concertos despontou nos anos 50 quando apoiou o empresário de teatro Vasco Morgado na contratação de Sidney Bechet (1955) e participou directamente na produção de espectáculos de Dizzy Reece (1956), orquestra de Count Basie (1956) e Bill Coleman (1959).
Nesta mesma década, conheceu George Wein (produtor do Festival de Jazz de Newport), começando a sonhar com a realização de um grande festival internacional em Portugal, fundou a primeira discoteca do País especializada em jazz, a Discostudio, e interveio pela primeira vez num programa de televisão (1958), consolidando a sua crescente autoridade neste género musical.
Também significativa foi a sua contratação para a KLM, como oficial de operações de voo, o que lhe permitiu ao longo dos anos assistir periodicamente aos melhores festivais de jazz realizados na Europa e nos EUA.
Foto: Augusto Mayer
Foto: Augusto Mayer
Os anos 60 trouxeram o início da ligação ao sindicalismo, outra das suas paixões, a colaboração no Festival de Jazz de Comblain-La-Tour (Bélgica), a fundação do Luisiana Jazz Club, em Cascais, a primeira tentativa de organizar um festival internacional na Costa do Sol e a junção pioneira do fado com o jazz, através do encontro em estúdio entre Amália Rodrigues e Don Byas.
Foto: Barros Veloso
Foto: Flama
Com o Cascais Jazz, agitou política e culturalmente a década de 70, trazendo ao Pavilhão do Dramático verdadeiros gigantes do jazz como Miles Davis, Dizzy Gillespie, Thelonious Monk, Art Blakey, Duke Ellington, Jimmy Smith, Sarah Vaughan, Gil Evans ou Sonny Rollins.
A veia de produtor de Villas-Boas materializou-se ainda nesta década nos festivais da Figueira da Foz (1976), Espinho (1977) e Algarve (1978) e através de concertos com músicos como Bill Evans e Eddie Gomez e Tete Montoliu.
A sua presença estendeu-se também à RTP, participando em vários programas – Curto-Circuito-Splash, Pop 25, Discorama, Semibreve, Disco e Daquilo e Aqui Jazz – e integrando o júri do Festival da Canção, à produção de discos para a Philips, nomeadamente de João Braga e Fernando Tordo, e à revista norte-americana DownBeat.
Porém, o seu sucesso profissional e as suas opções programáticas para o Cascais Jazz tornaram-no alvo de uma campanha de críticas perpetrada por uma certa facção do panorama do jazz em Portugal que pretendia abrir alas a uma estética vanguardista e revolucionária.
Foto: JMS/JNPDI
Foto: Augusto Mayer
Foto: JMS/JNPDI
Nos anos 80, fundou com Duarte Mendonça o festival Jazz Num Dia de Verão (1982), o Festival Internacional de Jazz de Lisboa (1985/1987) e o Festival de Jazz na Primavera (1988), produzindo simultaneamente concertos com músicos como Horace Silver (1980), Stan Getz e Sonny Stitt (1981), Dexter Gordon (1982) e Gary Burton (1983).
Retomou, igualmente, a sua actividade editorial através das marcas Nova – Companhia de Música e Sojazz, mantendo-se presente na RTP através dos programas Jazz Magazine, Clube de Jazz e Jazz para Todos.
O envolvimento no sindicalismo levou-o à presidência do SITAVA (Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos) e à participação no Conselho Nacional da CGTP.
Em 1989, por ocasião do Dia de Portugal, foi agraciado com a Ordem do Infante D. Henrique.
Foto: Augusto Mayer
Foto: Flama
Com o Cascais Jazz, agitou política e culturalmente a década de 70, trazendo ao Pavilhão do Dramático verdadeiros gigantes do jazz como Miles Davis, Dizzy Gillespie, Thelonious Monk, Art Blakey, Duke Ellington, Jimmy Smith, Sarah Vaughan, Gil Evans ou Sonny Rollins.
A veia de produtor de Villas-Boas materializou-se ainda nesta década nos festivais da Figueira da Foz (1976), Espinho (1977) e Algarve (1978) e através de concertos com músicos como Bill Evans e Eddie Gomez e Tete Montoliu.
A sua presença estendeu-se também à RTP, participando em vários programas – Curto-Circuito-Splash, Pop 25, Discorama, Semibreve, Disco e Daquilo e Aqui Jazz – e integrando o júri do Festival da Canção, à produção de discos para a Philips, nomeadamente de João Braga e Fernando Tordo, e à revista norte-americana DownBeat.
Porém, o seu sucesso profissional e as suas opções programáticas para o Cascais Jazz tornaram-no alvo de uma campanha de críticas perpetrada por uma certa facção do panorama do jazz em Portugal que pretendia abrir alas a uma estética vanguardista e revolucionária.
Foto: JMS/JNPDI
Foto: Augusto Mayer
Foto: JMS/JNPDI
Nos anos 80, fundou com Duarte Mendonça o festival Jazz Num Dia de Verão (1982), o Festival Internacional de Jazz de Lisboa (1985/1987) e o Festival de Jazz na Primavera (1988), produzindo simultaneamente concertos com músicos como Horace Silver (1980), Stan Getz e Sonny Stitt (1981), Dexter Gordon (1982) e Gary Burton (1983).
Retomou, igualmente, a sua actividade editorial através das marcas Nova – Companhia de Música e Sojazz, mantendo-se presente na RTP através dos programas Jazz Magazine, Clube de Jazz e Jazz para Todos.
O envolvimento no sindicalismo levou-o à presidência do SITAVA (Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos) e à participação no Conselho Nacional da CGTP.
Em 1989, por ocasião do Dia de Portugal, foi agraciado com a Ordem do Infante D. Henrique.
Foto: Augusto Mayer
Dez anos depois, a 10 de Março de 1999, faleceu em Lisboa e a sua partida foi assinalada na Assembleia da República com um voto de pesar e um minuto de silêncio. Enterrado ao som de “Just a Closer Walk With Thee”, na sua campa ergueu-se uma lápide com o epitáfio “Aqui jazz Luís Villas-Boas”.
Em 2007, foi publicado por João Moreira dos Santos um primeiro livro sobre a sua obra escrita: O Jazz Segundo Villas-Boas.
Foto: Diário de Lisboa
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