Não nos dêem música...
Não lhe ligo muito, mas ela de vez em quando fala, diz, informa, atulha-me de lixo.
Refiro-me ao aparelho que dá pelo nome de televisor.
E ontem no telejornal disse-me, a mim e a milhões de portugueses, que o Maestro Vitorino d'Almeida vai compôr, ou já compôs, uma sinfonia para o Sport Lisboa e Benfica.
A minha reacção foi de espanto e júbilo.
Espanto, porque só nos faltava agora o futebol invadir a música e também porque para um clube que tem dívidas ao fisco e à segurança social (o que vale para todos nas mesmas circunstâncias, que aqui não há clubites) sobra muito dinheiro (infelizmente muito do qual sai involuntariamente dos bolsos dos contribuintes) para este tipo de projectos, para além dos ordenados milionários.
De júbilo, por o Maestro não ser um homem do jazz, pois nada me desgostaria mais neste campo do que haver por exemplo uma marcha New Orleans do Benfica, um swing ou uma outra qualquer forma.
É por isto que cada vez lhes ligo menos.
A ela, a televisão.
E a ele, o futebol.
Já agora, não sei como e onde é que a dita sinfonia vai ser ouvida... No estádio não é certamente. Lembro-me de quando trabalhava na Comissão de Luta Contra a SIDA termos aí organizado um minuto de silêncio pelos milhões de vítimas desta infecção, isto no dia mundial de lutra contra a SIDA. O silêncio, solicitado alto e bom som aos altifalantes, e o respeito foram de tal monta que durante esse minuto se ouviam forte e feio os bombos, urros e tambores das claques, isto enquanto os jogadores estavam alinhados ao centro do campo, esses sim em silêncio. Ora se foi assim para a SIDA, imagino o que será quando tocarem a sinfonia...
Se calhar o melhor é o Senhor Maestro compôr só para percussão e sons humanos, no que pode escolher entre arrotos, caralh.... e sons de escarrar.
Mas o melhor é apressar-se porque senão quando estrear a peça o clube já se chama Siemens, o estádio passou a Samsung e o capitão da equipa a Zé Patrocínio!
6 Comments:
Que texto tão demagógico!
Quer dizer, o clube (que poderia ser outro qualquer) tem uma iniciativa do foro cultural, facto que considero ser absolutamente inédito no mundo do futebol, e o senhor ainda arranja argumentos para reprovar!
Por amor de Deus!
Para sua informação, gostaria que soubesse que o maestro Vitorino de Almedia não cobrou nada pela composição: ZERO - fê-lo pelo amor à camisola (coisa que os jogadores desse clube manifestamente não sabem o que é). Os custos imputados devem-se apenas aos músicos e à edição discográfica, decerto uma gota no oceano no mar de dívidas que esse clube tem acumulado. (FONTE: entrevista na Antena 2, em Julho deste ano)
Sugiro que se inteire melhor dos temas antes de sobre eles se pronunciar, e já agora, sugiro também que tente não entrar tanto nos caminhos da demagogia.
Caro Horácio,
Não há qualquer demagogia.
Se um contribuinte tem dívidas ao fisco ou à segurança social é penhorado sem apelo nem agravo.
Se um clube é devedor deve seguir-se a mesma regra. Se há dinheiro para sinfonias e ordenados milionários então que se paguem primeiro as dívidas à sociedade. O contrário é fazer pouco dos contribuintes que não têm outro remédio senão cumprir com a pesada carga fiscal que sobre eles impende.
Quem não tem dinheiro não tem vícios, já diz o povo, sempre sábio.
Se o Maestro não cobrou, melhor ainda. Também não viu no meu texto qualquer afirmação no sentido de que ele tinha cobrado.
A única iniciativa que os clubes podem ter que os honre é pagar as dívidas ao Estado. E já agora, desenvolver as actividades amadoras - que entretanto foram fechando para canalizar o $ para o futebol e outras actividades... - em nome das quais sacam ao Estado $ dos contribuintes, supostamente porque prestam um serviço público ao desenvolver o desporto nas camadas mais jovens. Resta saber como e em que medida, já que até os ginásios foram entregues aos privados que cobram couro e cabelo aos que os frequentam, vide Holmes Place do Sporting! Isto para falar apenas do que conheço...
Devo ainda acrescentar algo que venho defendendo há anos:
O melhor acto cívico e de cultura (no sentido de integração) que os clubes, nomeadamente os seus dirigentes, podem fazer é:
Falar menos e sobretudo deixar de distilar ódio em público, incendiando as claques e induzindo-as à violência e à discriminação e segregação! O contrário, o discurso da ética, da responsabilidade e do fairplay era o que se esperava de quem dirige estes importantes actores da sociedade e também modeladores de comportamentos e atitudes por parte dos mais novos e não só.
Não lhe retiro a razão na maior parte das coisas que escreveu acima.
O que critico neste post é que uma iniciativa destas, que deveria merecer no mínimo "compreensão" da sua parte(não falo de aprovação ou júbilo) acaba antes por ser motivo do seu escárnio e o mote para disparar para todos os lados, acabando por meter tudo no mesmo saco das vicissitudes do futebol, que as tem e que são de facto muitas. Dada esta conjuntura é curioso ver que algo que seria, no mínimo, de enaltecer, também merece a sua reprovação.
Daí ter-lhe chamado demagogia.
E já agora gostava de lhe fazer notar que, mais do que nunca, os clubes são obrigados a cumprir as suas obrigações perante o Estado.
Não é a mesma balda de há uns anos.
Possivelmente o senhor será cliente de muitas empresas, entre milhares que existem no país, que nunca pagaram impostos. Dessas esqueceu-se de falar.
Pois, possivelmente serei cliente porque não há como fazer a triagem.
Mas essas empresas não recebem tantas ajudas do orçamento público como os clubes nem pagam certamente ordenados milionários como os ditos clubes.
Não sou adepto de futebol e concordo com a maioria do que foi dito aqui.
Penso de qualquer forma ser uma iniciativa de louvar sendo pelo benfica ou por outra instituição qualquer (nem faço ideia das dividas que outras instituições, ditas culturais, têm ao fisco).
Interessa sim divulgar a música e os seus interpretes.
O concerto será hoje à noite (dia 19)no coliseu dos recreios,às 21h30 e apresentará uma orquestra de cerca de 80 músicos ,na sua maioria portugueses, onde estão englobados alguns dos melhores jovens músicos nacionais. Irá ser solista ,no concerto para piano e orquestra, a pianista internacional Ingebor Baldazti e além da espectacular sinfonia do Maestro António Victorino D?Almeida (já a ouvi em Cd) , a 2ª parte terá a presença de Carlos do Carmo com arranjos inéditos para orquestra sinfónica.
Talvez seja importante separar cultura do resto...pois este Portugal em constante divida merece continuar a ter concertos.
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