22 de dezembro de 2004

René Marie, a renegada: O "cromo" responde ao "Ignatre"

No passado dia 5 de Dezembro, JNPDI! colocou aqui um post sobre René Marie, o qual foi alvo de vários e duros/ofensivos comentários.

Um destes comentários visava um produtor de jazz com 30 anos de actividade em Portugal nesta área, o qual, sentindo-se atingido na sua dignidade pessoal e profissional (por ter sido, nomeadamente, apelidado de cromo e não só), nos solicitou a publicação da seguinte carta, a qual transcrevemos na íntegra:

Para : Acácio Moreira
04.12.22

RE : BLOGCOMMENT 11/12/04

Meu Caro Acácio,

O "cromo" responde ao "Ignatre" (contracção dos vocábulos "ignorante e atrevido") que infelizmente é o que encontramos mais por aí...

Mas voltando ao assunto em questão (os blogs são importantes para democraticamente sabermos o que vai nas cabeças dos "ignatres" do jazz) o "cromo" desculpa os comentários por reconhecer a juventude do AM, que apanhou o «Blue Train» (do Coltrane ) muito tarde, pelo que provavelmente ignora o que se passou nas décadas de 40 a 70.

O "cromo" interessa-se pelo jazz desde os 15 anos de idade (1946) pelo que começou a digerir discos de 78 RPM, antes do advento do LP, que caso não saiba começaram por ser de 10? (em 49/50) só posteriormente adquirindo o formato de 12?

No caso concreto da René, cuja entrevista vou procurar enviar-lhe para seu conhecimento integral, que aliás é uma cantora que muito admiro, daí estar na minha lista de próximas prioridades, emitiu opiniões a quente resultante de uma "dor de corno" (natural) por ter terminado recentemente uma relação amorosa/sentimental:«Doing standards is like faking an orgasm. I can do it, I can make the sounds but it just doesn?t move me anymore».

Só para citar dois exemplos a enorme Betty Carter, uma verdadeira "Academia de Jazz" viva, cantava standards os quais, graças ao seu grande talento, se tornaram praticamente "originais" com a vantagem de os esclarecidos que a ouviam poderem seguir as harmonias. O mesmo, mas num nível um pouco abaixo, com a talentosíssima Nnenna Freelon, cuja pianista regular, a japonesa Takara Miyamoto, é quem acompanha agora a René Marie.

Vamos ver se nos entendemos: os EUA produziram no século XX o melhor repertório de música dita "popular" e "jazz standards", dos grandes mestres à escala planetária!!! É impossível negligenciarmos este importantíssimo, indiscutível e histórico aspecto. Ao longo das décadas coube aos solistas vocais e instrumentais improvisar sobre estas estruturas harmónicas e mostrar quem é mais ou menos genial!

Tão simples quanto isto...

Agora, meu amigo, é indispensável regressar aos anos 40,50 e 60 e ouvir todos os criadores desses períodos no qual se baseiam algumas novas "vedetas" do século XXI!!

O "rebopper/cromo" não é contra os esforços dos novos intérpretes criarem a sua própria música.... mas encherem um CD só com originais "Is boring to death".... esquecendo-se de improvisar, adaptando harmonias sobre standards (do American Song Book e do jazz) é um crime de lesa Pátria! É que só os próprios é que usufruem, pois conhecem as harmonias; nós pobres ignorantes que não conhecemos não conseguimos fixar concentrar no desenvolvimento criativo.

Esta é a questão, Sr. "Ignatre"...

Espero vir a contratar a René Marie para uma futura iniciativa em que esteja envolvido, mas primeiro tenho que fazer um "briefing" com ela através da Maxjazz..

Saudações jazzisticas e Natalícias

DM




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