A guitarra de André Fernandes
Ontem fui ao Hot Clube ver e ouvir o grupo Spill, liderado pelo guitarrista André Fernandes, músico que até agora só tinha tido oportunidade de ouvir em disco, no «Ao Paredes Confesso», do contrabaixista Bernardo Moreira.
Este é um grupo que navega pelas áreas da fusão, fazendo pleno uso dos samplers e de outras ferramentas electrónicas, e que ousa inovar, o que é fundamental. Na minha opinião o resultado final é bastante interessante e tem muito potencial, sobretudo se conseguir interagir com a identidade musical portuguesa; talvez só assim consiga adquirir uma voz própria e realmente diferenciada das experiências que se fazem neste mesmo domínio noutros países.
Mas o mais surpreendente para mim foi mesmo o próprio André Fernandes enquanto guitarrista. Está lá a técnica, está o feeling, está a musicalidade e está a capacidade de se adaptar a diferentes contextos. É bom ver que em Portugal a guitarra jazz/fusão já está a um nível tão elevado, o que infelizmente não se pode dizer de todos os instrumentos.
Deste quarteto, destaque ainda para o André Sousa Machado, um 'velho' amigo dos meus tempos na Direcção do Hot Clube, sempre a dar o seu melhor e a viver intensamente cada projecto!
Se o piano eléctrico Rhodes era o do Hot, então é o mesmo em que tocou o próprio Bill Evans, em pleno 'Verão Quente' de 1975. Uma verdadeira peça de museu que na época era transportado em cima de uma camioneta de caixa aberta, o que quase ditou a sua apreensão pelos revolucionários de Abril. O Bill Evans, esse, só perguntava ao Villas e ao Duarte Mendonça o que era aquela palavra escrita em todas as paredes e muros ao longo das estradas: «Revolução».
De certa forma, os Spill são também uma revolução no experimentalismo com raízes no jazz e não deixa de ser curioso vê-los ao vivo na catedral da tradição que é o Hot. É sinal que o clube se sabe adaptar às novas tendências.
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